O eleitor brasileiro fica confuso com o grande número de partidos registrados. Os críticos e cientistas políticos reprovam o grande número de siglas – registradas e que aguardam registro – pois, infelizmente, a maioria da população não compreende o sistema político brasileiro e nem mesmo sabe para que servem os partidos políticos. É compreensível! A cada dois anos a história se repete: pessoas desejosas de se lançarem no universo da política e disputar vagas no legislativo ou executivo, correm em busca da construção de um ambiente favorável, antes mesmo do período eleitoral. Entretanto, o que sobra dessa movimentação toda é um amontoado de partidos políticos e nenhuma sustentação ideológica. As alianças costuradas conseguem colocar no mesmo palanque posicionamentos totalmente opostos. Negociatas ocorrem nos bastidores e aniquilam quaisquer resquícios de ideologia que possam sustentar os partidos. Até mesmo quando aparentemente, durante a disputa, consegue-se visualizar lados opostos, há uma forte tendência da oposição em abandonar o barco e juntar-se ao vencedor em troca de benesses. Diante de tudo isso, podemos nos perguntar: quem é que tem opinião? Seguramente é possível afirmar que existem apenas interesses, ao menos para o senso comum. Esse comportamento, confuso e baseado em interesses particulares, elimina a base ideológica das legendas que formam o grupo partidário nacional. Sem entrar na questão do certo ou errado, tal processo é ilegítimo e acontece com uma perspectiva, a do poder! Este é o maior projeto em questão e as parcerias firmadas resultam em sucesso, ou seja, alcançam o poder. Necessariamente há nesse processo de alianças muitos recursos financeiros investidos, em muitos casos oriundos de fontes duvidosas e até mesmo ilícitas, como demonstram os fatos no decorrer dos dias. Por outro lado, o projeto de governo fica em segundo plano ou nem existe. O desejo ou as necessidades do eleitor ficam em segundo ou terceiro plano, já que a meta é satisfazer os interesses dos integrantes das agremiações e de quem deu sustentação às campanhas. Após eleitos, buscando “agradar” seus correligionários, distribui-se cargos, sem muitos critérios, no que se refere à competência. Apresentam projetos, programas e ações que não condizem muito com a realidade ideológica das legendas e/ou com o discurso de campanha. Entretanto, o discurso é uma grande preocupação das campanhas, formatado por marqueteiros, muito bem elaborado, ainda que distante da realidade ou daquilo que se pretende fazer. As campanhas empenham-se muito em prometer, mas os esforços para realizar as promessas são escassos. Falta compromisso com o povo. A ele pertence o poder de fato, e somente o povo tem a possibilidade de outorgá-lo a quem achar em melhores condições de governar. Lamentavelmente, o cidadão não está em condições de escolher o melhor candidato entre tantos que disputam os cargos eletivos. Prova maior é o fato de que os candidatos eleitos, via de regra, são aqueles que têm as melhores estratégias para chegar ao poder, ou seja, aqueles que gastam muito dinheiro, constroem as maiores alianças, inclusive usando a máquina pública e dispostos a chegar ou se manter no poder a qualquer custo e a qualquer “preço”. O sistema político confuso, a ética e o compromisso ideológico distantes do ideal, além da construção cultural do povo brasileiro, principalmente em relação ao fato histórico do país em deixar de lado a educação das classes inferiores, desde a colonização, são obstáculos à qualidade da participação política dos cidadãos brasileiros.
Texto publicado na Revista Bless/ março/ 2015.
Texto publicado na Revista Bless/ março/ 2015.