Há muito tempo, em Portugal, surgiu o personagem Zé Povinho, em 1875. Foi criado pelo português Rafael Bordalo Pinheiro, e surgiu como sátira de crítica social.
A partir da primeira caricatura, Zé Povinho passou a representar o personagem de boca aberta, sem intervir, resignado perante a corrupção e a injustiça, ajoelhado pela carga dos impostos e ignorante das grandes questões do país.
Tornou-se uma figura identificativa do povo português, criticando de uma maneira humorística os principais problemas sociais, políticos e econômicos do país ao longo de sua história, caricaturando o povo português na sua característica de eterna revolta perante o abandono e esquecimento da classe política, embora pouco ou nada fazendo para alterar a situação.
O próprio Bordalo Pinheiro definiu o personagem:
"O Zé Povinho olha para um lado e para o outro e... fica como sempre... na mesma".

Primeira caricatura do "Zé Povinho" in "A Lanterna Mágica" (1875).
Zé povinho tendo seus impostos cobrados pelo Ministro da Fazenda, tendo ao lado a Guarda Municipal de chicote na mão para evitar resistência.
Dito isso, é nítido que soa em uníssono o descontentamento para com a política e a falta de representatividade por parte dos políticos, de modo que em coro taxamos todos os políticos de corruptos e aproveitadores. Assim, a eles responsabilizamos pela culpa de todas as mazelas.
Houve momentos na nossa história, inclusive recente, em que se desejava a liberdade e a democracia. No entanto, experimentamos já quase 30 anos pós ditadura e as coisas continuam difíceis, somos ultrapassados por toda a gente, temos opções imperfeitas, muito a fazer, e não arranjamos coragem para enfrentar as situações.
O conforto, o bem-estar custam a chegar, e, muitas vezes nunca chegam. Desesperamos e bradamos: A culpa é dos políticos!
Mas vejam bem, todas as decisões do nosso regime político, bem como todas as escolhas e ações dos gestores, são sancionadas pelo voto popular, livre e universal!
Não houve repressão, nem prisões, nem ameaças, enfim, não fomos obrigados a fazer as escolhas que fizemos, nem somos incapazes de decidir. Foi nos dado acesso a toda a informação; ouvimos debates; não nos foi cerceado o direito de discutir, concordar ou discordar, propor, analisar, fiscalizar, exigir e controlar. Apesar de tudo, construímos o quadro de representantes que temos, mas o resultado não nos agrada. E a culpa é de quem?
Se a imagem que temos da política não nos agrada, a culpa é nossa. Do povo que os elegeu. Quem primeiro deve agir para mudar? Nós, o povo.
Se o povo é soberano, livre, democrático, ele é responsável. E não esqueçamos, o povo somos nós...
É necessária, urgente e merecida uma solução. Ela existe, mas não é simples. Pode até para muitos ser indigesta, a longo prazo, talvez utópica. Ela exige que cada um de nós assuma a responsabilidade que a liberdade e a democracia impõe.
Precisamos nos tornarmos melhor - mais responsáveis, extinguindo o comodismo.

Zé Povinho dorme tranquilamente encostado à sua albarda ( espécie de sela utilizada em animais de carga), enquanto sustenta sobre seu corpo toda a corte.
Democracia é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, quem define as regras do jogo é o povo, geralmente por meio de representantes eleitos, que é o nosso caso. Se o povo, na sua apatia, permite a via fácil da demagogia, do clientelismo e da corrupção, porque haveriam os políticos de seguir a via difícil da honestidade e do serviço público? É claro que há políticos honestos, é claro que há pessoas capacitadas para de fato representar o povo, mas só farão isso uma vez que o povo eleja-os, e, se os eleitos não demostrarem a representatividade que queremos, cabe ao povo obrigá-los a seguir a via da honestidade, do trabalho, da transparência. Mas o povo somos todos nós. O povo é feito de cidadãos. Você é um, eu sou outro. Devemos começar por nós próprios, na individualidade, na roda de amigos, na família, na cidade, um passo de cada vez, buscando construir uma coletividade que traga resultados. Cabe ao cidadão, impor ao sistema político uma nova ética. Quem deseja essa nova ética na política deve agir e não esperar que alguém resolva em um passe de mágica.
Vamos deixar bem claro que nós podemos, queremos e vamos mudar.
"Há os que se queixam do vento. Os que esperam que ele mude. E os que procuram ajustar as velas." -- William G. Ward
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